🧫 Função Hepática em Cães e Gatos: Como Avaliar com Precisão os Exames Bioquímicos
- Inaê Regatieri
- 20 de ago.
- 3 min de leitura
ALT, AST, FA, GGT e albumina: o que esses marcadores revelam de fato na rotina clínica
Introducão
O fígado é um dos órgãos mais complexos e multifuncionais do organismo, e avaliar corretamente sua função é essencial na prática clínica veterinária. No entanto, a interpretação dos exames hepáticos muitas vezes gera confusão, especialmente quando os valores estão apenas levemente alterados ou quando diferentes enzimas apontam para direções distintas.
Este artigo tem como objetivo esclarecer o papel de cada marcador bioquímico e mostrar como aplicá-los de forma integrada à anamnese, aos sinais clínicos e à conduta diagnóstica.
🧠 Por que o fígado exige uma leitura completa e não isolada?
O fígado participa ativamente de:
Produção de proteínas plasmáticas (ex: albumina, fatores de coagulação)
Metabolismo de lipídeos, glicose e colesterol
Detoxificação de fármacos e toxinas
Armazenamento de vitaminas e ferro
Produção e secreção da bile

⚠️ Por isso, alterações laboratoriais podem indicar lesão hepática, disfunção funcional ou condições secundárias, como inflamações sistêmicas ou doenças endócrinas.
🧪 Principais exames hepáticos e seus significados clínicos
✅ ALT (Alanina Aminotransferase)
Enzima de extravasamento presente no citoplasma dos hepatócitos
Alta especificidade hepática em cães e gatos
Aumentada: indica lesão celular hepática, como hepatites, congestão, lipidose, neoplasias, uso de fármacos hepatotóxicos
Reduzida: pode ocorrer em prenhez, má nutrição ou doenças musculares graves
✅ AST (Aspartato Aminotransferase)
Menos específica que a ALT, pois está presente também em músculos, coração e outros tecidos
Aumentada: lesões musculares, hemólise, necrose tecidual, doenças hepáticas
📌 Dica clínica: Elevações simultâneas de ALT e AST reforçam a suspeita de dano hepático direto.
✅ FA (Fosfatase Alcalina)
Enzima de indução presente no fígado, ossos e intestino
Aumentada: colestase, crescimento ósseo, neoplasias, uso de anticonvulsivantes e corticoides, pancreatite, lipidose hepática
Reduzida: deficiência de zinco ou magnésio, desnutrição, hipotireoidismo
✅ GGT (Gama Glutamil Transferase)
Associada à colestase e mais expressiva em ruminantes
Pode ser avaliada junto à FA para investigar doenças biliares ou obstruções hepáticas
✅ Albumina
Proteína sintetizada exclusivamente no fígado
Reduzida: nefropatias, insuficiência hepática, má absorção, perda proteica, hemorragias
Aumentada: desidratação, ingestão excessiva de proteínas
💡 A albumina baixa não indica necessariamente lesão hepática, mas sim diminuição da capacidade funcional do órgão.
🩺 Lesão x função hepática: como diferenciar?
ALT e AST → refletem lesão celular (hepatite, necrose, intoxicação)
Albumina, ureia e glicose → refletem a função de síntese do fígado
FA e GGT → sugerem colestase ou obstrução biliar

📌 Alterações combinadas reforçam hipóteses diagnósticas. Exemplo: ALT aumentada com albumina baixa pode indicar lesão com perda funcional.
🐾 Exemplo clínico resumido: hepatite crônica
Um cão idoso apresenta perda de peso, vômitos intermitentes e ascite. Exames mostram:
ALT e AST elevadas
FA discretamente aumentada
Albumina baixa
Hepatomegalia ao ultrassom
Nesse cenário, a associação entre lesão + redução da capacidade de síntese sugere hepatopatia crônica com comprometimento funcional — exigindo conduta clínica cuidadosa e acompanhamento laboratorial.
✅ Vantagens de interpretar exames hepáticos de forma integrada
Permite diagnóstico precoce de hepatopatias, mesmo em fases subclínicas
Evita condutas equivocadas baseadas em exames isolados
Auxilia no monitoramento de tratamentos e toxicidades medicamentosas
Melhora a comunicação com o tutor e o entendimento do prognóstico

Conclusão
Avaliar a função hepática exige mais do que olhar números. Exige raciocínio clínico, correlação com sinais e compreensão das funções do fígado. A leitura correta dos exames bioquímicos permite ao veterinário agir com segurança, evitar erros diagnósticos e oferecer condutas terapêuticas mais eficazes.
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