🩸 Anemia em Cães e Gatos: Por que Ela Não é um Diagnóstico e Como Interpretá-la Corretamente
- Inaê Regatieri
- 5 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: 6 de ago.
A compreensão correta da anemia evita tratamentos equivocados e melhora a condução clínica.
Muitos profissionais ainda veem a anemia como um diagnóstico final, mas, na verdade, ela representa uma manifestação clínica de uma doença subjacente. Tratar a anemia sem compreender sua causa primária pode atrasar o diagnóstico correto, comprometer a escolha terapêutica e afetar diretamente a recuperação do paciente.
Este artigo tem como objetivo ajudar o médico veterinário a entender a fisiopatologia da anemia, como classificá-la e, principalmente, como interpretá-la com base nos exames laboratoriais, promovendo mais segurança e precisão clínica.
❗ Anemia não é o fim — é o começo de uma investigação.
A anemia é definida pela redução na quantidade de hemácias, hemoglobina ou hematócrito abaixo dos valores de referência para a espécie. Contudo, essa condição não é uma doença em si, mas sim uma resposta do organismo a diferentes distúrbios, como:
Hemorragias
Hemólise
Doenças infecciosas crônicas
Deficiências nutricionais
Disfunções medulares

O que define a conduta terapêutica adequada não é apenas o número reduzido nos exames, mas sim o motivo da queda.
🧬 Existem três formas de classificar a anemia na clínica veterinária:
1. Classificação fisiopatológica
Permite entender a origem da perda sanguínea:
Hemorrágica (aguda ou crônica)
Hemolítica (imunomediada, infecciosa, tóxica)
Hipoproliferativa (medular, por doenças crônicas ou deficiências)
2. Índices eritrocitários
Avaliam o volume e conteúdo de hemoglobina nas hemácias:
Macrocítica, microcítica ou normocítica (VCM)
Hipocrômica ou normocrômica (CHCM)
Esses dados indicam se o organismo está tentando regenerar as hemácias ou não.
3. Resposta medular (reticulocitose)
A presença de reticulócitos no sangue periférico mostra que a medula óssea está reagindo à anemia:
Anemia regenerativa: há resposta da medula (reticulócitos elevados)
Anemia arregenerativa: ausência de resposta (reticulócitos baixos)
🧪 Aplicação prática: o que observar no hemograma?
Ao analisar o hemograma, os seguintes dados devem ser correlacionados:
VCM e CHCM: indicam se as hemácias estão maiores ou menores e mais ou menos concentradas de hemoglobina
RDW (amplitude de distribuição das hemácias): mede a variação no tamanho
CCR% e contagem absoluta de reticulócitos: avaliam a regeneração
Policromasia e anisocitose: visíveis na lâmina, sugerem regeneração ativa
Morfologia de hemácias alteradas (esferócitos, acantócitos): podem sugerir hemólise, distúrbios hepáticos ou renais
📌 Exemplo clínico resumido
Um paciente canino apresenta hemácias normocíticas e normocrômicas, com reticulócitos corrigidos acima de 2% e policromasia acentuada. A conclusão é de anemia regenerativa, possivelmente causada por hemorragia aguda ou hemólise.
Nesse caso, investigar doença do carrapato, trauma ou intoxicação pode ser o caminho clínico mais acertado, ao invés de iniciar tratamento sintomático sem buscar a etiologia.
🩺 Benefícios da interpretação aprofundada da anemia para o veterinário:

Conclusão
Interpretar corretamente uma anemia vai muito além de identificar valores baixos no hemograma. Exige conhecimento técnico, atenção à resposta medular e à história clínica do paciente.
Esse tipo de leitura integrada permite ao veterinário identificar a causa primária, propor um tratamento mais eficaz e comunicar-se com segurança com o tutor — reforçando a confiança e promovendo um atendimento clínico mais completo.




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